sábado, 24 de maio de 2014

TÓPICO FRASAL

CONCEITO
Constituído habitualmente por um ou dois períodos curtos iniciais, o tópico frasal (frase-guia ou frase-núcleo) encerra de modo geral e conciso a idéia-núcleo do parágrafo. É uma generalização, em que se expressa opinião pessoal, um juízo, se define ou se declara alguma coisa.
Assim como a introdução, o tópico frasal pode ser feito com uma declaração, uma definição, uma enumeração, uma divisão etc.
TIPOS DE TÓPICOS FRASAIS
DECLARAÇÃO INICIAL
A relação entre civilizações antigas e Sirius, a mais importante estrela da constelação de Cão Maior, é notória. Além dos egípcios, o astro mais brilhante do céu noturno fascinava gregos, romanos e polinésios, entre outros. Seu reaparecimento, depois de 70 dias de ausência anual, era celebrada com rituais e cerimônias repletas de simbolismo. No Egito antigo, o retorno de Sirius marcava o início de um novo ano e indicava a chegada da estação das chuvas, além do aumento no nível do rio Nilo.
                                                                                                                                         (Isto é 07/10/2009, n.º  2082) 
ENUMERAÇÃO 
Para transformar esse tesouro em riqueza para todos os brasileiros que necessitam de melhoria na educação, saúde, infraestrutura e distribuição de renda, o País precisa cruzar cinco fronteiras.  (Tópico frasal) A primeira é a geográfica, pois o pré-sal está nos limites da plataforma marítima, a cerca de 300 quilômetros da costa.  A segunda, geológica, em razão da profundidade em que se encontra.  Outra fronteira é tecnológica, devido aos complexos sistemas necessários para a extração. O País já deu passos significativos para ultrapassar esses três limites. As outras duas fronteiras, a econômica e a política, O Brasil começa a cruzar a partir do marco regulatório. Nesse sentido, Lula não exagera ao afirmar que o dia 31 de agosto de 2009 entrará para a história como “um novo Dia da Independência do Brasil”.
                                                                                                                                        (Isto é 09/09/2009, num. 2078) 
CONTRASTE
Exemplo, também muito conhecido, de parágrafo com desenvolvimento por contraste é o de Rui Barbosa sobre política e politicalha:
 Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam, se excluem, se repulsam mutuamente (tópico frasal). A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis. A politicalha é indústria de o explorar a benefício de interesses pessoais. Constitui a política uma função, ou conjunto das funções do organismo nacional; é o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si mesma. A politicalha, pelo contrário, é o envenenamento crônico dos povos negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A política é a higiene dos países moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos de moralidade estragada.
                                                                                                                (Apud Luís Viana Filho, op. cit., p. 32) 
Vê-se logo pelo tópico frasal que se trata de um contraste, e não propriamente de um paralelo ou confronto (como de Castilho), pois o que o Autor ressalta entre política e politicalha é o seu antagonismo e não a sua identidade. Ora, o valor do contraste – de que a antítese é a figura típica – reside precisamente na sua capacidade de realçar certas idéias, pela simples oposição a outras, contrárias. 
ENUMERAÇÃO
A emissora carioca pode não entender nada de democracia, nem de jornalismo, mas é especialista em manipulação eleitoral. Fez campanha contra o Movimento Diretas-Já, vendo-se obrigada a aderir na última hora, quando seus veículos já não podiam circular sem sofrer hostilidade da população. No desespero de evitar uma vitória de Leonel Brizola na eleição para governador do Rio, a Globo já havia se envolvido no escândalo Proconsult, uma das maiores vergonhas na história recente. Mais tarde, praticou a edição criminosamente deformada do debate entre os candidatos Collor e Lula, com vistas a eleger o primeiro, a quem apoiou durante toda a campanha.”
                                                                                                         (Folha de S. Paulo, São Paulo, 22 set. 1996. p.1-7)

Toda grande cidade tem seu cronista por excelência, aquele que melhor a define e caracteriza, de forma explícita ou não. Londres, por exemplo, teve em Charles Dickens seu mais perfeito tradutor, o homem que soube da maneira mais incisiva desvendar cada mistério de suas ruas e bairros. O mesmo pode ser creditado a Kafka com Praga, Fernando Pessoa com Lisboa e Joyce com Dublin. Esses autores não descrevem uma cidade idealizada ou maquiada, mas sim as mostravam como de fato eram, ao mesmo tempo belas e ásperas, quase que um personagem a mais em suas obras. Essa persona de concreto e asfalto, o pano de fundo de mais de uma ou de várias obras que vai aos poucos ficando cada vez mais denso até se inserir substantivamente em um romance, pode também  ser O Rio de Janeiro que Machado de Assis tão bem conheceu. É nas obras do criador de Brás Cubras que um Rio fin-de-siècle melhor se descortina e é melhor caracterizado. Poucos usaram e abusaram  da Cidade Maravilhosa como Machado, fazendo  seus personagens se inserirem de tal forma à paisagem que cada um de seus livros bem poderia servir de um guia para o Rio que, para muitos, infelizmente não existe mais. Mas se essa cidade ficou no passado, o guia para ela pode ser encontrado na forma de Rio de Assis (Editora Casa da Palavra), uma interessante viagem até a grande metrópole brasileira do século XIX concebida pela designer Aline Carrer e um dos mais belos lançamentos do ano passado.
                                                                                                                                               Revista Cult, no.37,p. 21 
Este é o início de um texto longo que apresenta ao leitor um livro de arte contendo fotos do Rio de Janeiro do Tempo de Machado de Assis. Antes de mais nada, preste atenção na primeira frase do parágrafo: Toda grande cidade tem seu cronista por excelência, aquele que melhor a define e caracteriza, de forma explícita ou não. Observe a estratégia do autor: para chegar ao Rio de Machado de Assis, ele universaliza a idéia de que as grandes cidades sempre têm os seus cronistas. A primeira frase anuncia o tema do parágrafo; as frases seguintes demonstram o que se disse – Londres e Dickens, Kafka e Praga etc. Ao final, aparecem O Rio de Janeiro e Machado de Assis. E o parágrafo se fecha com o assunto do texto propriamente dito: o livro de Assis, que será resenhado nos parágrafos seguintes. O tema do artigo foi valorizado pela comparação internacional proposta na primeira frase e pela idéia implícita de que Machado  é a nossa grande referência literária.
Estamos diante de um texto especializado de uma revista de cultura. Não se trata de uma informação jornalística direta, em que “não se perde tempo” com introduções. Mas o recurso da “frase-guia”, que veremos em seguida, funciona em qualquer gênero e é sempre útil.
Para conferir se é assim mesmo, leia o texto seguinte.

O DESTINO DO LIXO DIGITAL
A reciclagem é alternativa para diminuir o volume de computadores jogados fora
Adriana Dias Lopes 
Um efeito da era digital que ninguém previu está tirando o humor dos ambientalistas. Até 2004, deverão ser descartados 315 milhões de micros em todo o planeta. O entulho conta com a contribuição dos brasileiros: calcula-se que 850 mil máquinas ficarão obsoletas por aqui até o fim de 2001. O problema é maior do que o espaço que monitores ou teclados ocupam na lata de lixo. Muitas peças eletrônicas são feitas de metais pesados, como mercúrio, níquel, cádmio, arsênico e chumbo, com efeitos tóxicos para a saúde do ser humano.
Em países onde o movimento ambientalista é mais forte, a reciclagem é o método mais incentivado. “Japão, França, Suécia, Alemanha e Estados Unidos desestimulam a manutenção dos aterros com a cobrança de impostos elevados”, diz a química Glória Nair Freire de Araújo, do Ceped (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento), um dos laboratórios de análise de pilhas e baterias credenciados no Brasil. Quem procura se livrar de um micro obsoleto deve procurar um empresa de reciclagem. São poucas no país.
O tema da reciclagem de computadores começa a aparecer em círculos especializados. Mas, por enquanto, a Convenção de Basiléia (1989) é a única regulamentação internacional a respeito. Criada por representantes governamentais, de ONGs e de indústrias de cerca de 120. países, entre eles O Brasil, ele visa proibir o movimento de resíduos perigosos entre as fronteiras dos participantes. “A sucata eletrônica entrou na lista dos componentes vetados há apenas três anos”, Diz  Marcelo Furtado, coordenados de campanha do Greenpeace, um dos participantes. “Não existe controle sobre a doação de equipamentos velhos – que muitas vezes viram lixo”, alerta.
O interesse pela sucata eletrônica, em geral por parte de países em desenvolvimento, tem motivos econômicos. Muitos computadores possuem metais preciosos em sua composição, como a prata e o ouro (veja quadro). Além de valiosos, 98% do ouro e da prata podem ser reutilizados. Uma das maiores empresas de reciclagem na Itália, A Geodis Logistics, aproveita mais material. Segundo seus cálculos, 94% dos componentes de um micro são reaproveitáveis. A notícia interessou outras grandes empresa.


Leis servem para baterias 
Fabricantes e lojas autorizadas que trabalham com pilhas e baterias receberam um ultimato, no ano passado. O Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) deu 12 meses a essas empresas para encontrarem modos de recolher baterias esgotadas. O prazo venceu em 23 de julho. Daqui a um ano, a reciclagem ou o armazenamento em lugares seguros será obrigatório.

A resolução do Conama é ainda mais abrangente. Há um mês, embalagens de pilhas e baterias têm de sair das fábricas com advertência sobre os riscos que os metais podem causar ao ambiente. Pela primeira vez, a quantidade de mercúrio, cádmio e chumbo tem de seguir padrões internacionais. Mas até julho, os dois únicos laboratórios credenciados para esse tipo de análise – o Ceped e o Cetind – na Bahia não haviam recebido produtos para examinar.
                                                                                                                                                   Revista Galileu, ed. 109
EXERCÍCIOS

1.Grife o tópico frasal de cada parágrafo apresentado. Não deixe de observar como o autor desenvolve.
      a) “O isolamento de uma população determina as características culturais próprias. Essas sociedades não têm conhecimento das idéias existentes fora de seu horizonte geográfico. É o que acontece na terra dos cegos do conto de H.G. Welles. Os cegos desconhecem a visão e vivem tranqüilamente com sua realidade, naturalmente adaptados, pois todos são iguais. Esse conceito pode ser exemplificado também pelo caso das comunidades indígenas ou mesmo qualquer outra comunidade isolada.”(Redação de vestibular)
      b) “O desprestígio da classe política e o desinteresse do eleitorado pelas eleições proporcionais são muitos fortes. As eleições para os postos executivos é que constituem o grande momento de mobilização do eleitorado. É o momento em que o povão se vinga, aprovando alguns candidatos e rejeitando outros. Os deputados, na sua grande maioria, pertencem à classe A. É com os membros dessa classe que os parlamentares mantêm relações sociais, comerciais, familiares. É dessa classe com a qual mantêm maiores vínculos, que sofrem as maiores pressões. Desse modo, nas condições concretas das disputas eleitorais em nosso país, se o parlamentarismo não elimina inteiramente a influência das classes D e E no jogo político, certamente atua no sentido de reduzi-la.” (Leôncio M. Rodrigues)
    

  2. Apresentamos a seguir alguns tópicos frasais para serem desenvolvidos na maneira sugerida.
      a) Anacleto é um detetive trapalhão. (por enumeração de detalhes: forneça a descrição física e psicológica do   personagem).
      b) As novelas transmitidas pela televisão brasileira são muito mais atraentes que nossos filmes. (por confronto)
      c) As cidades brasileiras estão se tornando ingovernáveis. (por razões)
      d) Há três tipos básicos de composição: a narração, a descrição e a dissertação. (por análise)
      e) Nunca diga que algum ser humano é uma ilha: tudo que acontece a um semelhante nos atinge. (por    exemplificação)
   
    3. Desenvolva também estes tópicos frasais dissertativos:
      a) A prática do esporte deve ser incentivada e amparada pelos órgãos públicos.
      b) O trabalho dignifica o homem, mas o homem não deve viver só para o trabalho.
      c) A propaganda de cigarros e de bebidas deve ser proibida.
      d) O direito à cultura é fundamental a qualquer ser humano.
      2. Desenvolva os tópicos frasais seguintes, considerando os conectivos:
      a) O jornal pode ser um excelente meio de conscientização das pessoas, a não ser que
      b) As mulheres, atualmente, ocupam cada vez mais funções de destaque na vida social e política de muitos países;  no entanto
      c) Um curso universitário pode ser um bom caminho para a realização profissional de uma pessoa, mas...
      d) Se não souber preservar a natureza, o ser humano estará pondo em risco sua própria existência, porque...
      e) Muitas pessoas propõem a pena de morte como medida para conter a violência que existe hoje em várias cidades; outras,porém
      f) Muitos alunos acham difícil fazer uma redação, porque.
      g) Muitos alunos acham difícil fazer uma redação, no entanto
      h) Um meio de comunicação tão importante como a televisão não deve sofrer censura, pois
      i) Um meio de comunicação tão importante como a televisão não deve sofrer censura, entretanto
      j) O uso de drogas pelos jovens é, antes de tudo, um problema familiar, porque
      l) O uso de drogas pelos jovens é, antes de tudo, um problema familiar, embora





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